Minha vida na ANP (Academia Nacional de Polícia)

Um depoimento do curso de formação da polícia federal do CFP de 2019

Bom, essa fase da minha vida se iniciou no dia do resultado da quarta fase do concurso da Polícia Federal de 2018. Era entre 00:00 e 01:00 do dia 03 de abril de 2019 e eu estava na sala da minha casa, esperando o resultado no Diário Oficial da União para entrar de vez na preparação para ANP.

Antes de iniciar esta leitura, é imprescindível que você dê uma conferida no meu outro artigo, o qual trata da minha jornada para chegar até aqui. Caso já tenha lido, senta que lá vem a história.

Já vou deixar claro que tudo que foi escrito a seguir é uma percepção minha sobre o curso, então…. Boa leitura.

Teatro de Arena. Estar sentado aí é o sonho de qualquer candidato a Policial Federal

Preparação pós-psicotécnico

Meu amigo, o psicotécnico é a pior fase de um concurso pra carreira policial. Não importa o quanto você se prepare para o teste, é impossível saber o resultado.

Não foi diferente comigo, fiz muitos testes antes da prova, digamos que eu não queria pecar pela negligência, tentei exaurir ao máximo as possibilidades existentes para que, quanto chegasse o dia de realizar o exame, o risco de reprovação fosse reduzido ao máximo possível.

Relatório de desempenho no Psicotécnico (Cespe)

Não há resultado mais tranquilizante que este, saber que a decisão quando a sua “capacidade psicotécnica” é o suficiente para continuar no concurso.

No artigo anterior tem uma foto linda minha no exato momento que vi que tinha sido aprovado.

Não que minha opinião importe, mas essa é a típica fase que não avalia nada. Tem louco que entra e tem pessoas totalmente capacitadas que são reprovadas.

Prova de Títulos (Perito e Delegado)

Pra mim, este tópico é extremamente curto. Ocorre que esta é única fase (exceto a prova objetiva/discursiva) que também é classificatória, ou seja, as posições podem mudar.

Lá atrás, ainda durante a minha preparação, eu sempre pensava “caramba! se eu ficar nas últimas colocações dentro das vagas, corre o risco de eu cair para fora das vagas por causa dos títulos“. Isto, algumas vezes, me tirava o sono, pois eu não tinha uma pós na minha área de especialidade do concurso (informática).

Em Brasília, entregando minha Pós em Engenharia da Produção (que não foi aceita), se não me falha a memória foi na UNB.

Mas, a vida é uma caixinha de surpresas, e eu acabei ficando em 1° lugar nas provas objetivas/discursivas, o que fez com que essa fase fosse apenas para cumprir tabela. Tentei enviar a minha pós em Engenharia de Produção, mas não foi aceita. Dessa forma acabei caindo para 2° lugar no concurso.

Enxoval

Como sempre, uma correria!

O enxoval já vem detalhado em edital, mas ninguém quer ser o diferentão, né? Grupos e mais grupos de WhatsApp compartilhando aqui e ali modelos de calça “Ripstop” ou, principalmente, da Multicam. Tipo de bastão (que sequer fora usado o que compramos), luva de MMA, tênis preto (sempre em falta nas lojas), etc.

Quando minha encomenda chegou. Do meu brother de faculdade @spartacusmilitar

Em relação a alguns itens, o edital descrevia como se tivesse que ser exclusivo da ANP, mas na prática tudo foi aceito, salvo (obviamente) o uniforme de cada cargo, no meu caso de Perito. São camisetas gola polo e gola “U”, além de boné e blusa (uma jaqueta personalizada da ANP) que compramos na loja física da APCF na ANP.

Nesta fase a gente acaba gastando uma grana meio salgada, mas parece uma brincadeira, porque o sonho parece estar a um passo de se concretizar.

Essa foto é engraçada, só to postando ela pra cumprir meu objetivo aqui mesmo. Mas é assim, na ANP todo mundo vira chinês, fica tudo igual. Essa foto foi tirada 05:08 da manhã do dia 17 de Junho de 2019. Primeiro dia oficial do meu curso na ANP. Poucos minutos antes de me deslocar para a Academia da Polícia Federal.

Se somar tudo que comprei, tudo mesmo, entre os equipamentos, uniformes, acessórios, acho que gastei aproximadamente R$ 2.500,00. Não me recordo muito bem e não tenho isso registrado (ou até devo ter, mas dá preguiça de procurar), mas acho que foi isso mesmo.

Momento da inscrição no curso

Era sábado, dia 15 de junho de 2019, 7h e 30 min da manhã. Eu estava no portão de entrada da Academia Nacional de Polícia para fazer a inscrição no Curso de Formação Profissional para Perito Criminal Federal do Departamento de Polícia Federal. Sim, escrevi tudo por extenso, porque até hoje isso me arrepia.

Naquele momento a excitação estava fora de controle, embora eu já conhecesse a ANP por dentro, por ter feito o CFP de Agente do DEPEN em 2016, agora era outra sensação, tudo começava a se tornar realidade.

O processo de inscrição foi tecnicamente simples e rápido, avaliação física (antropometria), validação dos dados, foto para o crachá, uma pequena palestra. Depois disso, fomos encaminhados aos alojamentos e loja para aquisição dos uniformes.

Fila para entrar na ANP e proceder com a inscrição.

No alojamento acabei chegando atrasado e fiquei no andar superior de beliche, kkkk. Se um dia você for para este templo sagrado, vá antes pro alojamento e depois compre o enxoval, assim você consegue pegar a cama inferior.

Como alunos do cargo de Perito Criminal Federal, ganhamos uma mochila de brinde da APCF (Associação dos Peritos Criminais Federais), associação a qual tenho, agora, o orgulho em pertencer.

E, obviamente, não poderia faltar aquela foto marota da famosa placa da ANP, a qual representa para muitos, de fato, o início da realização de um sonho.

Foto de praxe. Totem na entrada da ANP.

Alojamento

Bravo-08 (B-08) – Três beliches, uma estante, um pequeno guarda-roupas (estilo closet) e um banheiro com 2 chuveiros e 1 vaso (sim, 1 vaso). A minha casa pelos próximos 4 meses e 3 semanas seria ainda dividida com mais 5 colegas.

Quem chega antes no alojamento terá maior praticidade durante o curso, pois escolherá o melhor “cantinho”, seja cama ou armário.

A relação entre os colegas de quarto é um grande dilema como em qualquer outra forma de vida em sociedade. Você deve saber seus limites, mudar alguns hábitos e, mais importante de tudo, trabalhar muito a sua paciência. Tirando alguns poucos problemas, tive uma relação muito tranquila no meu alojamento e, atualmente, ainda sou lotado com um ex-colega de quarto.

Rio Grande do Sul, Pernambuco, Tocantins, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. Uma mistura só. Não só no alojamento, mas no curso todo.

De qualquer forma, posso dizer que as amizades formadas nos diversos alojamentos do CFP são mantidas pela vida toda, porque ali começamos a forjar os elos que mantém a Policia Federal o que é hoje.

B-08

A área dos alojamentos também acaba sendo um local de interação, até porque é onde é permitido ficar mais relaxado, bermuda, chinelo, etc. E também onde todos os alunos estão.

Meu irmão do tempo de cursinho ainda. Sucesso juntos.
Isso deve ter sido logo na primeira semana, ainda havia pouca gente no curso, pois o CFP de Agente, Escrivão e Papiloscopista começou 1 semana depois.

Aulas

Temos uma divisão das matérias da grade curricular entre eixos durante o ensino na Academia Nacional de Polícia. Digamos que as aulas se dividem, sem entrar em muitos detalhes, em aulas de Tiro, Operacionais/Físicas e Teóricas.

Meu brother de turma @alexandre_ferreira_rj

Alguns módulos são idênticos entre os cargos (por exemplo as aulas de tiro), outros são peculiares às realidades de cada função. Vou dar um exemplo do meu cargo (Perito): tivemos apenas um módulo básico de ensino operacional (Técnicas Operacionais I), por outro lado, o cargo de Agente teve básico, intermediário e avançado.

Naturalmente era possível identificar essa divisão durante o curso, o qual perfeitamente vai se encaixando nas realidades das diversas carreiras do DPF.

Aula prática de Perícia em Veículos no pátio da PCDF.

Como alunos do cargo de perito, tivemos um “matéria” exclusiva (a JEC), a qual tinha como objetivo aproximar nosso cargo da realidade que encontraríamos, vou detalhar isso um pouco mais adiante. Além disso, durante o curso, a grande maioria das matérias eram específicas pra nosso cargo, deixando nosso conhecimento convergir cada vez mais com nosso futuro cargo.

Uma coisa muito engraçada é que a empolgação dos primeiros dias e primeiras aulas é passageira, por mais que tudo é um sonho, por muitas vezes tive que me apegar a isso para não ser tão estressante e desgastante o período na academia.

Regras da academia

Há um motivo de eu estar escrevendo este artigo somente após conclusão do curso e posse no cargo: controle sobre a exposição do aluno/academia.

O controle durante todo o curso é extremo, sequer usamos (nem podemos levar no bolso) celulares ou smartwatches, ou qualquer outro dispositivo similar, salvo o notebook durante as aulas.

O local onde podemos utilizar o celular se limita aos alojamentos e restaurante, nenhum lugar mais, nem mesmo durante aquela corridinha à noite, na pista de treino, para escutar uma música. A pena se for pego? pontos de conceito, e eles são importantíssimos para quem quer buscar uma lotação melhor.

Sair da academia, então, nem se fala. O período de internato inicia na segunda-feira pela manhã (é possível entrar na ANP a partir das 06:00) e vai até sábado ao meio-dia. Sim, não podemos sair de lá nem à noite. A partir das 22:00 não é mais permitido andar pelo complexo da ANP, apenas na área dos alojamentos, e, por fim, depois das 23:00 somente dentro de seu respectivo quarto.

As salas de aulas são muito bem estruturadas: ar-condicionado, TV’s (para transmissão da aula), quadro branco. Sem dúvidas, não deixa a desejar em nada. O maior problema ocorre durante o intervalo, onde todos desejam ir para a cantina (só tem uma), a qual tem 2 (às vezes 1) funcionário atendendo, então já sabe.. fila.

Falando nisso, fila é uma regra. Em tudo tem fila, banheiro, cantina, restaurante, fila pra pagar, fila para gravar nome na camiseta, lavanderia, cortar cabelo, lojinhas e assim vai.

Voltando a falar sobre as aulas, via de regra ocorrem das 08:00 às 11:40 e das 13:50 às 17:30 (alguns dias têm mais um período que vai das 17:50 às 19:30), são 4 aulas, 2 pela manhã e 2 pela tarde (como disse antes, às vezes mais 2 pela noite), porém se engana quem acha que o envolvimento com as atividades se restringe a isso.

Às 07:20, todas as turmas devem estar formadas para seus orientadores, que são servidores (policiais do mesmo cargo da turma) da casa, para, em forma, irem às respectivas salas de aula. Nas sextas-feiras ainda há uma formação especial, em que cantamos o hino nacional, hino da polícia federal e geralmente há um breve discurso de alguma autoridade convidada.

Entre as aulas, durante o dia, é uma correria só, pois podemos muito bem ter uma aula teórica até às 09:40 e às 10:00 já devemos estar prontos para uma aula de natação, ou vice-versa. Então é aluno correndo pra tudo que é lado, um esquece uma coisa, outro outra, mas no fim dá tudo certo!

As aulas que eu mais gostava, obviamente, eram as de armamento e tiro, é um sonho ficar disparando com toda a gama de armamento de que dispõe o DPF, além do que os professores são extremamente preparados, tanto na didática, quando na prática e segurança.

Uma característica, pra mim pelo menos, muito boa, foi a mudança do TAF que havia feito durante as fases do edital [veja no meu outro artigo] para um novo modelo de TAF pensado na carreira policial, o qual foi composto por exames voltados ao dia a dia do cargo.

Natação e corridas com traje operacional (multicam e coturnos) e circuito de obstáculos, também com o traje. Na hora é horrível, mas depois é facilmente percebido que tudo tem um porquê.

Bolsa de Estudos

A bolsa de estudos é um direito que tem o aluno devidamente matriculado, podendo optar ou não por seu recebimento. No caso, não optam pelo recebimento os que já são servidores (federal, estadual ou municipal) e que recebam mais que o valor de 50% do subsídio inicial do cargo pretendido. No meu caso, a minha remuneração no DEPEN era menor que a bolsa de perito, ou seja, optei pela bolsa. A bolsa não constitui um salário, mas sim uma ajuda de custo, sendo assim não é descontado previdência (INSS), mas somente IRPF.

Para ser mais exato, a bolsa líquida de um PCF/DPF é R$ 9.457,98 e de um EPF/APF/PPF é R$ 5.431,00. Isso é suficiente (e muito) para manter sua vida neste período em Brasília, até porque você mora na ANP e terá o restante do valor para suprir suas necessidades gerais e responsabilidades fora da academia.

Tirando o Foco

Para a leitura ficar um pouco menos cansativa.

Nessa jornada até a aprovação como Perito da PF passei por exatamente 4 reprovações.

Agente PF 2012 (meu primeiro.. inocente..)
Agente PF 2014 (por 1 questão)
Perito IGP SC 2017 (sequer apareci nos aprovados)
Oficial de Inteligência ABIN 2018 (na redação)

Tenho um grande amigo meu que reprovou no último concurso da PRF, em 2019. Acabamos conversando muito sobre futuro e chance de novas provas, vontade de estudar que simplesmente desaparece, entre outros assuntos voltados à dor de uma reprovação. Eu faço uma analogia a um grande atleta, que pratica sem descansar, por centenas ou milhares de horas até alcançar a excelência, para chegar em um mundial ou nacional e simplesmente não ser campeão, não ser lembrado. Embora com todas as condições adversas, ele tem que voltar ao seu treino.

Reprovar em um concurso não faz de você uma pessoa fracassada, tola ou sem sorte. Apenas significa que você não aprendeu ou executou as coisas certas, aquelas que seriam a base para o sucesso.

Mas tenha certeza que após uma reprovação você está mais capacitado para a próxima prova, isto é nada mais que lógico.

Conhecimento não se perde, acumula-se.

Problemas de saúde durante o curso

Chegava a ser engraçado, no primeiro, segundo mês de curso, por aí, junto aos grupos de alunos sempre havia um ruído: tosse!

Parece que a academia toda pegou o mesmo vírus e nas situações em que agrupavam-se todos os alunos, como na formação e reuniões no Teatro de Arena, aquilo soava como um coral de escola.

Chegou ao cúmulo de os orientadores e supervisores solicitarem aos alunos que parassem de tossir (WhAt?!), sim, ” – Não tussa, por favor.”

Realmente era uma coisa chata, incomodava não só a quem tossia, mas a quem estava próximo. Era um loop, você tossia, aí se curava, aí algum aluno tossia na sua cara, aí você voltava a ficar doente. Lembro-me de ter ficado aproximadamente umas 3 semanas com isso, direto, é muito ruim.

Voltando para o alojamento depois de uma aula noturna.

Bom, nada é tão ruim que não possa piorar. Tossir é chato, mas se lesionar (fisicamente), não só é ruim, como aumenta suas chances de reprovação exponencialmente.

Em todas aulas é muito comum os professores pedirem empenho, dedicação, garra para completar as tarefas aplicadas, nada de errado (na verdade é o papel que se espera), mas temos que saber que nosso corpo está em um ambiente hostil, onde todo passo dado errado pode causar um problema irreversível. Não somos já Policiais Federais, mas sim alunos, que por qualquer deslize podem ser eliminados arbitrariamente. E isso acontece, como aconteceu.

Cara, cuida da sua saúde e do seu corpo durante a academia (e se prepare um tempo antes, de preferência). Se é isso que você sonha, como eu sonhava, deixar cair por entre os dedos NÃO É UMA OPÇÃO.

Abrindo um parênteses


Velho, saporra é foda. Na Academia Nacional de Polícia, é como se você fosse uma criança entrando em um parque de diversões. É sensacional. Nem com todo este artigo eu conseguiria expressar tudo, todos altos e baixos, é indescritível.
Se é o que você quer (imagino que seja, já que você está até agora lendo isso aqui), corre atrás deste sonho, vai. Com disciplina a gente chega a qualquer lugar.

Apenas para ilustrar, tive um colega que na primeira semana teve uma bolha no calcanhar, que depois virou uma cratera. Infeccionou. Meu caro leitor ou leitora, por sorte divina, ele se recuperou antes de iniciarem as aulas praticas de verdade, acabou ausente em uma ou duas, mas conseguiu recuperar depois.

Por outro lado, tive também dois outros colegas (acho que citei anteriormente), que deslocaram seus ombros, no mesmo dia, na mesma bateria de exercícios, um no “macaquinho”, que é o vilão da história toda, e o outro em um abdominal um pouco diferente, levando peso junto ao braço. Foram à junta médica, 2 semanas depois, foram convidados a se retirarem da formação, de manhã cedo, e, enquanto a turma seguia para a aula, eles pegaram suas malas em seus alojamentos e bye bye. É bem assim que funciona. É realmente chocante ver a eliminação de um colega de turma.

“Oi, você está eliminado. Pegue suas coisas e saia. O próximo concurso está logo ali.”

Por fim, direto ao ponto, ir ao médico da ANP pode significar uma eliminação. E, a questão aqui está longe de ser priorizar o curso à saúde (talvez pra mim até tenha sido), mas o quanto menos você aparecer melhor.

Reprovações

É, sem dúvidas, o tópico mais delicado, pois só quem passa por toda uma jornada sabe a dor de uma reprovação.

Acho que você vai concordar comigo que o quão mais perto da vitória (aqui, no mundo dos concursos, seria a posse), mais dolorida é a ferida causada pela pancada de uma reprovação.

Lembro-me da queda na redação do concurso da ABIN/2018, doeu mais que o tombo da prova do IGP/SC, que foi direto na fase da prova objetiva.

Durante o curso de formação não é diferente, há chances (e elas são postas em prática) de reprovar. Sim, você pode reprovar quando já está sentindo o gostinho de ser policial federal – isso vale pra qualquer concurso dessa área.

Vamos aos fatos. Vou escrever os números que fiquei sabendo, seja por ter presenciado ou ser informado. Inicialmente, no primeiro dia de curso, éramos aproximadamente 580 (não importa o número exato, era algo assim). Não vou dividir as reprovações por cargos, pois nada específico de algum cargo reprovou candidatos. No decorrer do curso ocorreram:

  • 3 reprovações na prova de tiro (0,5%)
  • 5 desligamentos* resultantes de problemas de saúde (0,8%)
  • 7 desligamentos resultantes de investigação social (1,2%)

* – Uso o termo desligamentos, porque realmente não foi uma prova, foram aulas usuais que os candidatos tiveram algum problema físico, que resultou em junta médica, que resultou em desligamento sumário.

Se não me falha a memória, ninguém reprovou no TFP (que é a educação física voltada à carreira policial). Alteraram o formato das avaliações e isso foi muito bom, uma evolução tremenda se considerado o antigo modelo, que, como é no TAF, deixa o candidato refém de um salto horizontal que não avalia nada, só reprova.

Ocorreram algumas desistências, posse em outro concurso, interesse na carreira, desgosto com o período enclausurado, os motivos foram vários, mas não estou levando em consideração aqui.

Alguns destes reprovados acabaram voltando por decisões judiciais, outros voltarão na próxima turma (depende que dia você está lendo este artigo, ela está marcada para março/2020) e outros decidiram sequer tentar retornar subjudice.

Tive dois colegas do curso de perito (da minha sala mesmo) que foram eliminados no mesmo dia pela mesma causa: Tiraram o braço do lugar em uma aula de TFP, lembro que teve uma escrivã que teve o mesmo destino, pelo mesmo motivo. Ou seja, em poucas palavras, TODO cuidado é pouco.

Acho que 100% dos alunos da ANP posam para esta foto. A curiosidade desta foto é que eu não tirei ela no primeiro dia, mas sim lá pelas últimas semanas. Estava aguardando a liberação de entrada para os alunos na ANP, devia ser próximo das 06h da manhã, e resolvi garantir.

A academia não é lugar de super-heróis ou heroínas, mas sim de fazer o simples que dá certo. Manter-se em forma antes de começar o curso de formação também é muito importante, pois mitiga a chance de contrair uma lesão.

Agora, em relação às matérias teóricas, você pode não se empenhar tanto (como foi meu caso), mas reprovar é MUITO difícil. Notas como 8.00 ou 8.50 são consideradas baixas, 9.00 é o novo 7.00, mas, como diziam, 6 é 10! (fazendo uma analogia que se você tirasse 6 pelo menos não estaria reprovado). Tive colegas que praticamente gabaritaram todas as provas (sim, tiraram 10.00 em quase todas as provas). Neste caso depende do seu empenho e também do seu interesse em ficar bem classificado para escolha das vagas.

Provas

As provas se perduraram durante praticamente todas as semanas. Salvo as duas ou três primeiras semanas, eram raras as que não tinham alguma avaliação pontuada. Isso faz a gente ter um raciocínio muito simples: além da distância familiar, estar se preparando fisicamente, mentalmente, formar diariamente, alojamento cheio de gente, calor, sequidão, você ainda teria que estudar (sim, não acabou o estudo – na verdade nunca acaba, né?).

Uma característica desta minha academia foi que, num contexto geral, o eixo teórico valeu muito mais em questão de nota final. Veja abaixo minhas notas, não se assuste, mas eu fiquei em penúltimo colocado na academia (de 62 peritos, minha colocação foi 61). A média do primeiro foi 9.77 e a minha 9.10.

MatériaNota
CRI I9,000
BAL9,000
TO I10,000
TFP10,000
DHRJ9,000
BE10,000
LOC I9,500
ACT9,000
IEP9,000
NIP9,000
NGAL9,000
FORE10,000
GF9,500
ML9,500
PV9,000
LOC II9,500
IPO8,000
BIF9,500
CRI 49,500
GPSCART9,000
DOC9,500
MER9,000
EMA9,000
CONCEITO40,200
DPP9,375
QUIF9,500
INC9,000
GCRIM9,500
IF9,000
AT FINAL9,434
USF9,000

As linhas que estão marcadas de verde são matérias práticas e de rosa o conceito (que nesta academia foi multiplicado por 5), você inicia com 8,00, eu fiquei com 8,04, pois fui xerife geral da academia em uma semana e ganhei 0,04 (risos). Essa pontuação pode aumentar ou diminuir, porém a chance de perder sempre é maior, por exemplo, por ir com uma meia preta quando teria que ser branca, você perde 0,20, 5x o que ganhei por ser xerife da formatura e ter que puxar brados e hino nacional e da PF para a academia inteira. Para aumentar tem que ter sorte de sorteado (sorte de ser sorteado é boa) para ser xerife, por exemplo, ou algumas outras raras situações.

Aquele alojamento padrão

De fato deixei a desejar nos estudos durante o curso, finais de semana, como já morava em Brasília, eram de descanso, realmente me desligava da academia. Durante o período noturno, no alojamento, também aproveitava para ver algumas séries e tal. Estudava quando realmente era preciso. Passei alguns frios na barriga, mas tudo calculado (brincadeira, na hora da medo mesmo).

Por outro lado, alguns colegas realmente se dedicaram e no final do curso colheram os frutos e puderam escolher suas lotações na ordem da sua classificação.

Quase um perito (JEC)

O melhor momento da academia tem início. A Jornada Específica de Conhecimento é um período do curso de formação em que somos encaminhados ao Instituto Nacional de Criminalística para aulas na especialidade de cada área, eu ,por exemplo, tive apenas aulas práticas de informática forense.

Cão Farejador da Polícia Federal. O investimento é alto para manter essas belezas.

A questão de ser o melhor momento não está apenas no quesito “aprendizagem prática”, mas também pelo fato de que neste momento do curso, as provas tinham acabado, ou seja, apenas tempo me distanciava da tão sonhada formatura.

A JEC tem duração de aproximadamente 2 semanas e é realizada ao fim do curso, apenas o cargo de Perito tem este tipo de atividade, de forma intensiva, voltada à prática da profissão, que é realmente muito bom (embora estávamos exaustos psicologicamente naquele momento).

Laboratório de documentoscopia (INC)

Cara, neste momento a gente já tem o gostinho de ser perito, o ambiente, as pessoas ao seu redor, equipamentos, casos discutidos, tudo começa a se tornar realidade. Não só perito, mas sim POLICIAL FEDERAL. Tudo a sua volta começa a se tornar factível.

Escolha das Lotações

A fase da decisão, onde tudo que foi planejado pode mudar, foi o que aconteceu. Assim, eu não me preocupei muito com essa fase, pois como comentei anteriormente, fui o último a escolher da minha área, então eu ficaria com a vaga que sobrasse (pela rádio corredor iria sobrar Macapá, Manaus ou Belém – sobrou Belém). Mas para quem estava nas primeiras posições, meu amigo, foi tenso.

Choro, histórias e tudo mais. Deve ser difícil ter a chance de voltar para casa e não conseguir (eu não tinha essa chance, não abriram vagas de meu interesse, ou seja, tudo era mesma coisa e eu já estava onde queria estar: dentro da PF).

Vamos para o que interessa: a escolha. Ocorre da seguinte maneira, você é chamado para uma sala, no caso dos peritos foi o mini-auditório, lá dentro todos os candidatos realizarão sua escolha em ordem de classificação, a classificação é geral, ou seja, todas as áreas têm a mesma classificação, porém, as lotações/vagas são exclusivas de cada área, então na prática a classificação é por área. Esse rolo de vagas específicas para determinadas áreas só acontece para Perito, para os outros cargos (agente, escrivão, delegado e papiloscopista) as vagas são gerais.

Momento da escolha das vagas.

Continuando, lá dentro dessa sala, um mestre de cerimônia (digamos assim) começa a chamar 1 por 1, de acordo com a classificação, para subir no púlpito e dizer ao microfone seu nome completo, área e opção, mais ou menos assim.

” – Leonardo Friedrich Magro, Área 3 – Informática, Belém/PA”.

Pronto! é isso, depois você assina um comprovante e vaitimbora.

Formatura

Então, último tópico dessa minha jornada: a formatura.

Do dia 04 ao dia 08 de novembro de 2019, estávamos com o ponteiro da ansiedade no limite. Dia 08 seria oficialmente o último dia do curso de formação e, naturalmente, a cerimônia final (aquela que todo mundo fica embaixo de uma tenda, familiares, amigos, etc), que começaria 08:00. O problema é que no dia 07 seria a festa da formatura (show, bebidas, e tudo mais que é apropriado para estes momentos), ou seja, o dia da curtição era antes do dia da responsabilidade (risos).

Primeiramente, vai entender, né?

O fato é que: f***-se, foi pra esse exato dia que uma boa parte da minha vida tinha sido construída. Com minha família reunida, amigos e colegas, fiz dessa formatura a melhor que já participei, uma festa própria, curtindo com as pessoas que eu amo. Isso é muito, mas muito gratificante. Toda dor da disciplina, do tempo do estudo, do tempo da preparação, do tempo da academia, com certeza, foi MUITO MENOR que a dor que poderia ter vindo de um possível arrependimento de não ter continuado a estudar.

Minha mãe, eu e meu pai. Impossível descrever.

Durante a nossa festa aconteceram muitas coisas: chuva, acabou a luz, DJ Dênis e Felipe Araújo mandaram ver, voltou a luz, caiu a luz novamente, mas ninguém dava bola pra isso (exceto a comissão de formatura, que convenhamos, são os 0,5 pontos na academia mais caros que você pode conseguir).

Lembra que eu falei que no outro dia teria cerimônia? Pois é, quando nos demos por conta já era 06:00, do dia 08, estávamos na rua, esperando Uber, que recusavam de ir buscar (kkkkkk), de roupa de festa, ainda tínhamos que ir pra casa, nos arrumarmos para então iniciar deslocamento pra ANP novamente.

Chegando em casa, de onde eu logo partiria para a cerimônia. Eu, meu brother, Rodrigo, e meu amor, Thaís.

Nossa tá me dando uma nostalgia aqui, escrevendo este artigo, foi bom demais!

Acabou que chegamos na ANP, já cheia, saí correndo atrás da minha orientadora, minha turma já tava enfileirada, mas deu tudo certo! Estávamos todos lá, aguardando o início da cerimônia especial, a qual contou com a presença do Presidente da República e do Ministro da Justiça, além de todo alto escalão da Polícia Federal.

Cerimônia. Isso arrepia qualquer um.

Neste momento, estávamos na expectativa da mensagem do Presidente informando a data da nossa posse, a qual foi confirmada para segunda-feira, dia 11 de novembro de 2019, o dia que eu me tornaria um Policial Federal.

Tente pensar comigo: eu estava lá, sentado, aluno, praticamente concurseiro ainda, e recebo a notícia que na segunda-feira (sim, passaria o final de semana e no próximo dia útil eu tomaria posse no meu cargo) seria nossa nomeação no D.O.U. E isso aconteceu. Domingo eu já estava em Belém/PA (passagem custou uma fortuna) para no outro dia ser Policial Federal.

Papo vai, papo vem, acabou a cerimônia. Tudo que passamos virou passado, agora, logo ali na saída, no P1 (como é chamado o portão de entrada/saída da academia), seria a saída para quem entrou aluno e saiu policial. Meu querido, Deus do céu, simplesmente não há palavras para descrever, é uma mistura de saudades com ansiedade, é uma mistura F***, eu realmente espero que você que está lendo isso tenha a disciplina que eu tive e consiga ter essa mesma sensação algum dia, não importa quando, mas algum dia.

Isso fica pra história. Momento que eu saio da ANP. Formado e Policial Federal.

Sabe que o gosto da cerveja muda, o cheiro o ar é outro, eu falava disso muito com um amigo meu: – Cara, parece que curtir um barzinho, passear, ir ao cinema, tudo parece meia-boca. É isso mesmo, sentir isso é bom, porque prova que você se sente incomodado em não estar onde merece, mas lembra que entre achar que merece e merecer tem um caminho muito longo. E ai, o que é melhor, uma cervejinha amarga hoje ou uma farda preta amanhã?

Agradecimentos

Novamente, destinados a todos que me proporcionaram base para subir cada vez mais um degrau: minha família e amigos.

Pagarei uma promessa que fiz voltando de Morro do São Paulo/BA, onde um frei de uma pequena capela me disse palavras muito fortes, antes de eu saber que seria eliminado no concurso da ABIN. Dessa forma, agradeço a ele, também, mas ele é representante de Outro Ente muito maior, sendo assim, agradeço a Deus.

Onde fiz a promessa. Em determinado momento da minha “carreira” de estudos, palavras de motivação funcionavam mais que livros.

Próximo post?

Não vou parar de escrever, ainda continuo acreditando que isso realmente ajuda outras pessoas que buscam a mesma coisa ou algo similar. O que faz eu não parar de escrever? saber que o que estou escrevendo está sendo lido, claro. Assim sendo, compartilhe este blog com alguém que você conheça, ajude a motivar essa pessoa e a me motivar também.

O próximo post será voltado à posse e ao exercício inicial do cargo, ou seja, como foi a jornada pós-ANP.

Publicado por

Leonardo Friedrich Magro

Nascido em Passo Fundo/RS. Formado em Sistemas de Informação pela UNOESC/SMO. Já fui empresário, professor universitário e agora servidor público.